Quem nos acompanha por aqui e pelas Redes Sociais sabe que passamos quase todo o mês de novembro empenhados na campanha #UmAbraçoEmMariana, com diversas ações realizadas pela nossa rede.
Uma delas foi a Vakinha que organizamos e cuja adesão nos surpreendeu. Tínhamos uma meta inicial de R$8000 e conseguimos dobrar a meta, arrecadando, graças à ajuda de todos vocês, um total de R$16.116, 27 (contando as taxas cobradas pela própria Vakinha).
Até agora, foram gastos só em doação de galões de água o valor de R$7990 para Governador Valadares e Colatina (acesse os links clicando em cima do nome de cada cidade para saber mais informação de como foram essas ações).
Além disso, como parte da campanha e em parceria com a Cris Marques, blogueira da RBBV e alguém muito envolvida com o turismo solidário, partimos rumo ao Rio Doce para entender melhor as necessidades das comunidades atingidas nas proximidades de Mariana, afim de ajudarmos de forma mais efetiva através das mãos da querida Cris.
A viagem ocorrei entre os dias 27/11 e 4/12. Enquanto nossa blogueira estava lá, ela ia nos passando o quanto estava sendo pessoalmente difícil para ela e o quanto as necessidades das vítimas eram diferentes das que pensávamos inicialmente. Já havia água, comida e roupas suficientes de doações de diversas partes do país e esses artigos já não eram mais necessários, exceto para comunidades que estavam isoladas pela lama e que sequer conseguiam receber as doações. Por outro lado, haviam demandas que sequer imaginávamos, relacionadas a materiais para trabalho e também necessidades afetivas que não são palpáveis pelo valor do dinheiro. Ficamos sinceramente comovidos e pensativos de como poderíamos usar o montante que a Cris havia levado de forma mais eficiente possível e essa foi uma tarefa difícil, que descrevo com as palavras da própria Cris:
“Foi emocionante ver o tanto que me pediam materiais de trabalho: enxada, carrinho de mão, panos para bordar, linhas, secadores…
Como não dava para atender todos, resolvi selecionar um grupo de mulheres (de 3 hotéis diferentes, onde muitas vítimas estão abrigadas) que trabalhavam em salões de beleza por dois motivos: porque esses itens seriam mais fácies de encontrar e não seria tão caro, como os materiais para roça, por exemplo. Na nossa lista de compras incluímos pedidos especiais, como três meninas que fizeram aniversário no dia da entrega e o senhor que me contou chorando não ter resgatado seu radinho e a máquina de cortar o cabelo, suas últimas aquisições após uma semana trabalhando na roça. Foi então que percebi que as necessidades individuais suprem o coletivo…”
No total, a Cris usou R$ 2.150,37 da nossa Vakinha e já estamos negociando com ela de manter a parceria para a sua próxima viagem até a região atingida que ocorrerá no próximo dia 18 de dezembro. Agora que já sabemos das demandas principais, acreditamos que será mais fácil o panejamento.
Caso você se interesse pelo projeto da Cris e queira se engajar nessa viagem solidária, acesse o post onde ela explica a ideia.
Por fim, compartilho com vocês o relato da nossa guerreira sobre os dias com as vítimas do Rio Doce:
“Foram 5 dias de uma das viagens mais difíceis da minha vida. Tudo que vivi nesses poucos dias é difícil de compartilhar… A proporção dessa catástrofe, que não é apenas ambiental, feriu as raízes de vários povos e afeta diretamente as nossas raízes…
Em vários momentos pensei “o que estou fazendo aqui?”. Me sentia impotente diante da dimensão da tragédia que assola o Rio Doce. Ao mesmo tempo, fiquei emocionada ao ver como somos solidários. Todo esse movimento que acolhe a dor do Rio Doce me faz ter a certeza que somos muitos, e mesmo que espalhados, estamos construindo algo muito maior, baseado no amor.
Desde que voltei da região de Mariana me emociono facilmente ao tentar relatar o que vi, minha garganta seca, minha voz fica tremida e em muitos momentos não consegui conter as lágrimas. Nessa viagem descobri minhas fraquezas, medos e percebi o tanto que minhas águas internas também foram afetadas… São muitas emoções e sentimentos…
Na ânsia por repostas, voltei com muitas dúvidas e me recolhi pedindo clareza. Por alguns momentos pensei em desistir das ações que me propus fazer, mas percebi que o meu desejo de continuar é muito maior do que de recuar.
Fiquei todos esses dias pensando quais informações seriam relevantes compartilhar com vocês. Diante das perguntas dos amigos e conhecidos, percebi que muitas pessoas (ainda) pensam que a cidade de Mariana foi a principal atingida. Não foi! Mariana não foi afetada em nada! As cidades que foram muito atingidas fazem parte do município, são elas: Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo. Esses lugares desapareceram, cobertos por lama. Mariana foi a cidade de apoio para recebimento e distribuição das doações. A cidade não sofre com falta de água, pois não utilizam o Rio Doce como abastecimento. Mariana ficou rotulada como a cidade atingida e consequentemente o setor turístico também foi altamente prejudicado. Portanto, se você tem alguma viagem marcada pra lá, não desmarque. A cidade continua linda e vai te receber de braços abertos.
…outros pontos:
– Existe muita informação descentralizada, por isso uma das melhores maneiras de ajudar é se informando.
– O recebimento de doações em Mariana está suspenso. A necessidade de ajuda no momento é na triagem nos galpões onde estão estocados as doações, principalmente dos alimentos. Se você quer ajudar distribuia as doações para outras cidades afetadas, de preferência, diretamente para as comunidade.
– O acesso para os pequenos distritos e zonas rurais deve ser feito (preferencialmente) com carros 4X4. Agora é época de chuva e para chegar até alguns municípios as condições de acesso estão precários, principalmente aqueles que as estradas foram tomadas pela lama.
– Ainda têm famílias de Bento Rodrigues e Paracatu em hotéis e pousadas de Mariana, no entanto, algumas delas já começaram a serem relocadas para casas alugadas pela Samarco. (Segundo informação da empresa, elas ficarão nessas casas até ser definido um novo local para “reconstrução de Bento”.)
– Para ajudas de maior proporção como reconstrução de casas, hortas comunitárias, capacitação da água, entre outras… sugiro entrar em contato diretamente com os atingidos da região onde deseja atuar. É muito importante o diálogo com essas pessoas, para que juntos possam criar projetos de interesse da comunidade.
Não são as vítimas de Mariana e sim, de todos afetados pela lama no Rio Doce… de Minas Gerais até o Espírito Santo.”
Gostaríamos aqui de parabenizar o lindo da trabalho da Cris Marques e agradecê-la pela coragem, empenho e determinação em ajudar os que mais precisam. Como ela mesma gosta de dizer: Gratidão, Cris!
Mais uma vez, agradecemos à todos que contribuíram com a nossa Vakinha e assim que tivermos acordado de como serão as próximas ações, compartilharemos aqui com vocês!